terça-feira, 30 de março de 2010

O PAPEL DO PARTIDO NA LUTA PELO FIM DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO


Costumo por força do hábito de leitura, ir lendo e verificando o método de construção da persuasão e da exposição dos motivos contidos em um texto. Isso torna a leitura mais crítica, e no meu caso, prende-me mais ao texto. E no caso especial dos textos escritos pelos camaradas, percebo um modo quase que único dessa construção, que se baseia resumidamente na exposição da conjuntura, do isolamento do caso em si, da análise profunda das contradições, passando pelo direcionamento das proposições levantadas, resumidamente: gênese do problema, conseqüências dos problemas e ações para solucioná-lo.

O que me inquieta nesse processo, é não perceber esse processo em um todo quando se levanta questões como escravismo, população negra, preconceito e discriminação.

Penso claramente, e sem nenhum tipo de arrodeio que precisamos primeiro superar o racismo no Brasil, para depois superar o sistema.

Independente do sistema onde estaremos inseridos, a exclusão social, causada primeiro pelo racismo quinhentista ao qual estamos submetidos, sempre será fator de invisibilismo da população negra de nosso país. É uma questão simples de se ver, seja no partido como quadros, como dirigentes e como ação de política prioritária. Somos mais de 47% da população brasileira e deveríamos sim estar em evidência pelo que produzimos seja de conteúdo material ou científico.

Quero que fique bem evidente que de nenhuma forma quero deixar sob suspeita, ou de forma subliminar aqui, que o partido negligencia esse tema. Muito pelo contrário, nossa participação na UNEGRO e o apoio em nossas lutas históricas contra a discriminação não me deixam nenhuma dúvida sobre isso. O que me preocupa é o método aplicado ao tema dentro do debate do congresso em si. Precisamos nos aprofundar e deixar claro a sociedade as nossas ações contra um sistema que deixa 30% de brasileiros morando em favelas, e dessa população, mais de 80% é formado por negros e negras excluídos do sistema. E lá que reside o problema de ausência de creche ou de qualquer assistência ás mães, em sua maioria negra, que não tem onde deixar seus filhos e por isso não trabalham (remuneradamente). Ao tratarmos o tema mulheres, é prejudicial trabalharmos de forma genérica, visto que temos dados que nos apontam que onde o problema é mais grave, onde o desemprego, o desamparo e a violência atacam com mais freqüência, é entre as mulheres negras. Isso me intriga: se temos dados de prioridades, porque teimamos logo nós, em tratarmos a coisa de maneira genérica?

Senão vejamos o caso da juventude; há muito tempo, em encontros diversos, as entidades do movimento negro denunciam o genocídio da população jovem negra do Brasil. Temos dados do próprio governo federal, das secretarias de segurança dos Estados, e isso já tema recorrente nos debates de segurança pública realizados pelos estudiosos do assunto. Sendo assim, como o debate genérico de juventude vai nos apontar uma solução prática para a nossa juventude principalmente nos setores produtivos e na academia? se perdemos aqui a chance de afirmar de maneira explícita e clara que apoiamos as políticas de cotas? Ou temos outra forma de corrigir e reparar a forma mais repulsiva do capitalismo que foi escravismo e suas conseqüências?

Cabe o tema escravismo tratado em nosso documento, o mesmo método também aplicado aos outros, onde a constatação leva a uma série de intervenções que apontam soluções. Primeiro é preciso deixar bem (claro?) que a abolição é obra dos próprios escravos em uma mobilização que já começa em 1549, onde relatos já tratam da existência dos primeiros quilombos, ou seja, a resistência estava e sempre esteve em nosso sangue. Outro fator que precisa ser lembrado, é que a abolição, aconteceu em embate político e intelectual, onde as séries de vitorias legais, dentro dos tribunais brasileiros de caráter europeu evidenciam a vitória intelectual negra nesse processo legal, e por que não dizer democrático? Visto que foi possibilitado o debate? Esse devir de quantidade e qualidade, impulsionou o processo abolicionista.

É impossível imaginar o sistema político, e até mesmo educacional brasileiro, exaltar uma vitória intelectual dessa população imensa onde qualquer dose de auto-estima poderia estimular uma propulsão de consciência política e social na época. Não seria possível estimular um outro Haiti.

Penso que tratamos os negros como meros espectadores de sua liberdade, o que é um ato histórico falho dos livros didáticos. Precisamos nos aprofundar e revisitar temas espinhosos como esse, mas que precisam de ousadia e vanguarda para serem tratados como devem ser. Daí me vem uma idéia de um partido pronto pra esse desafio: O Partido Comunista do Brasil.

  • Presidente cernegro/unegro acre
  • Coord. executivo Rede Amazônia Negra
  • Coord. CARMAA/AC

Divisão Prom. Igual. Racial / SEJUDH/AC


(Este artigo foi escrito para contribuir no processo de construção do 12# congresso do PC do B)

Nenhum comentário:

Postar um comentário